Regina estava sentada em frente ao espelho dando os últimos retoques na maquiagem. Era véspera de Natal e este seria o primeiro que passaria sem o seu marido. A separação havia sido traumática, mas ela estava conseguindo se manter. Como sempre iria passar a noite na casa de seus pais com os dois filhos, Maria Helena e João Vitor, e o fato de estar indo sozinha a incomodava um pouco.

Levantou-se e quando ia sair ouviu um barulho na varanda do quarto. Assustada, foi lentamente até a janela e abriu a cortina num golpe só. Para sua surpresa lá estava um homem vestido de Papai Noel, com o saco de presentes e tudo, tentando se aprumar na pequena varanda. Imaginando não haver perigo, abriu a porta de vidro:

- Mas o que o Sr está fazendo aqui? Estamos no quinto andar e esta brincadeira pode acabar com alguém machucado.

Levantando a cabeça lentamente, Papai Noel a olhou bem nos olhos e disse, com uma voz que inspirava tranqüilidade:

- Você sabe que não tem perigo, eu faço isso sempre.

Havia alguma coisa na voz dele que a fez se acalmar e ajuda-lo a entrar no quarto. Ele sentou-se numa cadeira e foi logo dizendo:

- Regina, você sabe quem eu sou, não sabe?

Por uma estranha razão ela respondeu que ele era Papai Noel. Por mais ridícula que parecesse a resposta, ela tinha certeza que era ele.

- Você sabe o que eu estou fazendo aqui, não sabe?

Ela já estava um pouco grandinha para receber presentes de Papai Noel e não conseguiu imaginar nenhuma outra razão.

- Todos os anos eu recebo cartas de todas as crianças me pedindo presentes, mas esse ano eu recebi uma carta meio estranha. Duas crianças me escreveram dizendo que não queriam brinquedos, mas queriam que eu fizesse a mãe deles parar de se comportar mal. Escreveram que ela volta tarde todas as noites e elas praticamente só ficam com a babá...
- Mas eu tenho que trabalhar, a pensão que o meu marido paga é muito pouco e...
- Pare Regina, você sabe que isso não é verdade, você nunca sai do serviço depois das seis horas e só chega em casa lá pelas dez.

Era verdade e ela ficou vermelha de ter sido pega contando uma mentira, mas mesmo assim tentou retrucar:

- Mas... Só para me divertir um pouco, depois da separação eu... E não são todos os dias... e ... e...
- Regina, pare porque você só está se complicando mais - disse Papai Noel já um pouquinho irritado.

E continuou lendo a carta onde seus filhos falavam de como ficavam sozinhos, dos ‘tios’que ficavam ligando perguntando por ela, dos porres, etc.

- Você vai me dizer que tudo isso é mentira?

Ela ficou quieta. Já não pensava em se defender, mas sim começava a sentir um certo remorso pelo descuido com os filhos. Apenas deu uma balançada com a cabeça admitindo tudo que Papai Noel dissera até aquele momento. Só não estava preparada para o que veio a seguir. Seus filhos haviam escrito que, quando eles se comportavam mal ou, às vezes, até sem razão, ela lhes dava umas palmadas.

De boca aberta de surpresa, ela ouviu o pedido das crianças: que, se quem se comporta mal deve levar uma surra, que Papai Noel desse uma na mamãe para ver se ela parava de sair sempre e ficasse mais com eles. Ah! E tinha também um PS: Eles iriam deixar biscoitos e leite para ele na varanda da sala.

Ela ficou pasma, nunca poderia imaginar ouvir aquilo. Mesmo já tendo admitido que estava errada isso era absurdo. E mais surpresa ainda ficou quando viu Papai Noel tirando a luva da mão direita e começar a enrolar a manga do seu casaco.

- Além de concordar com as crianças eu gosto muito de leite com biscoitos. Você não acha que seria muita falta de educação minha comer os biscoitos e tomar o leite que eles deixaram para mim sem lhes dar o presente que pediram?

Ela pensou em reclamar, mas, por alguma razão, achou que seria inútil. Resignada, levantou-se lentamente e já começava a se debruçar no colo do Papai Noel quando ele gentilmente a interrompeu:

- Não está esquecendo de nada? – perguntou.

Do que poderia estar esquecendo. Para apanhar na bunda é só se deitar de bruços no colo de alguém e... NÃO PODE SER... Será que ele quer que eu levante o vestido... Não pode ser, Papai Noel não faria isso e...

Como se tivesse lido os pensamentos de Regina, Papai Noel mandou, não só que levantasse o vestido como também que arriasse a calcinha.

- Surra de verdade é assim, de bunda pra fora. E ficou olhando incisivamente para ela.

Ela ameaçou reclamar, mas ficou só na ameaça. Cheia de vergonha, primeiro tirou a calcinha por baixo do vestido e só depois de deitar no colo de Papai Noel é que levantou o vestido.

A primeira palmada não demorou a vir, e forte. Sentiu uma queimação horrível no traseiro. A segunda veio logo a seguir e as demais numa seqüência ritmada. Ritmadas e extremamente doloridas. Em pouco tempo já chorava como uma criança. Resolveu tentar se defender com uma das mãos, mas Papai Noel rapidamente a segurou e dobrou seu braço por sobre as costas. E dá-lhe palmada!

Quando terminou a surra ela ainda ficou deitada um pouco de tempo no colo de Papai Noel, só teve a iniciativa de baixar o vestido.

- Eu ainda tenho muitas crianças para visitar, e algumas mães também, por isso é melhor se levantar.

Regina se levantou lentamente. Cada movimento era particularmente doloroso. Com a cabeça baixa e os olhos ainda cheios de lágrimas sentiu Papai Noel a abraçar delicadamente e dizer:

- Espero que tenha aprendido a sua lição e espero também que tenha aprendido que você pode continuar a se divertir sem negligenciar os seus filhos.

Quando ia se virar para responder Papai Noel já havia desaparecido. Só podia ouvir um tradicional OH! OH! OH!

Rapidamente se recompôs (só não colocou a calcinha de volta por motivos óbvios) e, chamando pelos filhos, foi para a festa de Natal.

Na hora da troca de presentes, ela abraçou os filhos e, como presente, prometeu nunca mais ficar longe deles. Prometeu e cumpriu.

O resto da festa transcorreu tranqüilamente exceto na hora da ceia quando a mãe de Regina perguntou se ela não iria sentar para comer e dois risinhos foram ouvidos no canto da mesa.

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